Livro: “Álvaro Cunhal no País dos Sovietes” reúne fotografias dos anos do exílio (LUSA)
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Número de Documento: 16057307
Lisboa, Portugal 26/04/2013 12:48 (LUSA)
Temas: Fotografia, Artes (geral), Cultura (geral), História, Curiosidades, Pessoas, Política, Política (geral)
Lisboa, 26 abr (Lusa) – O álbum de fotografias “Álvaro Cunhal no País dos Sovietes”, a partir de hoje nas livrarias, ilustra o papel do secretário-geral do PCP enquanto protagonista político internacional mas sobretudo a influência de Moscovo na vida do dirigente comunista português.
Da autoria dos historiadores Helena Matos e José Milhazes, a coleção de fotografias situa Álvaro Cunhal (1913-2005) na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) logo após a fuga da prisão de Peniche em 1960 até aos anos que antecederam a queda do império soviético.
“Neste livro, encontramos um Álvaro Cunhal mais informal, mais humano, que dá autógrafos, que sorri e que fuma”, diz José Milhazes, jornalista e historiador, e um dos autores do livro de fotografias referindo-se à imagem da capa em que Cunhal, esboçando um sorriso, aparece ainda de cabelo escuro e com um cigarro entre os dedos.
“Do ponto de vista político sem dúvida que a melhor imagem é aquela em que Cunhal aparece junto a grandes dirigentes do movimento comunista internacional, onde aparece sorridente com Fidel Castro e outros dirigentes. É o momento mais alto de Álvaro Cunhal no movimento comunista internacional”, sublinha Milhazes referindo-se a uma fotografia captada em Moscovo no dia 25 de fevereiro de 1976.
Nas três fotografias do XXV Congresso do Partido Comunista da União Soviética (páginas 37-38) Cunhal conversa “alegremente” no Palácio dos Congressos do Kremlin com Hustav Husak, presidente da Checoslováquia, Fidel Castro, presidente cubano, Erik Honekker, primeiro secretário do Comité Central do Partido Socialista Unido da Alemanha, e Le Zuan, primeiro secretário do Partido dos Trabalhadores do Vietnam.
“Neste livro nota-se a importância de Cunhal, sobretudo quando se comparam as datas. Uma coisa é Cunhal antes do 25 de novembro de 1975 e outra é depois. Basta comparar aquela fotografia em que ele está num plano dianteiro num dos congressos (página 37) e depois onde Cunhal aparece ao fundo na famosa tela de Dimitri Nabaldian num congresso logo a seguir (página 67). Há uma certa diferença porque se Cunhal continuasse a desempenhar um papel como aquele que desempenhava antes do 25 de novembro claro que no quadro apareceria num plano muito mais dianteiro”, explica Milhazes referindo-se ao significado político das imagens.
Além do caráter político da estética soviética, o álbum que reúne fotografias que foram publicadas ao longo dos anos em publicações soviéticas mostra também, segundo os autores, a influência que a “linguagem” de Moscovo exerceu junto de Cunhal.
“Na sua primeira aparição no espaço público em Portugal após o 25 de Abril – em cima de uma viatura militar, no aeroporto – é óbvia a encenação soviética”, escreve Helena Matos no texto de introdução em que refere o papel central do mundo soviético na vida do secretário-geral do PCP.
“Álvaro Cunhal nasceu em 1913. A URSS ainda não existia. Quando Álvaro Cunhal morreu, em junho de 2005, a URSS já desaparecera. A infância e a velhice são os únicos tempos da sua vida longa em que não está enquadrado pelo mundo soviético”, refere Helena Matos, que também se refere ao conhecido “secretismo” sempre presente na vida do líder comunista.
“Santiago Carrilllo, líder do Partido Comunista de Espanha, falaria da mania do secretismo em relação a Álvaro Cunhal – há que ter em conta que a contenção da imprensa portuguesa face à vida privada dos seus políticos torna-se, no caso de Cunhal, uma espécie de tabu que a democracia em vez de quebrar, acentuou e mitificou”, refere a historiadora na introdução do álbum de fotografias sobre o secretário-geral do PCP no “País dos Sovietes”.
O livro reúne ainda fotografias no Kremlin, que mostram Cunhal com Nito Alves do MPLA, em 1976, então ministro da Administração Interna do Governo angolano e que foi fuzilado em Luanda na sequência do golpe que protagonizou um ano depois.
Há ainda imagens de Cunhal com líderes comunistas internacionais, com filhos dos funcionários do PCP em Moscovo, incluindo a própria filha Ana Cunhal, militares e cosmonautas - os protagonistas da “Vitória Cósmica” exaltada pelo secretário-geral dos comunistas portugueses.
“Nos êxitos da cosmonáutica soviética sintetizam-se os maiores êxitos do socialismo, na economia, na ciência, técnica, cultura e política, o trabalho coletivo do povo soviético que vai à frente de todos na via do progresso”, escreve Cunhal num artigo publicado na URSS com o título “O futuro pertence-nos”, em 1966.
Quando em 1989 Cunhal realiza a última viagem, por motivos de saúde, a Moscovo, o futuro ficará marcado pela queda do Muro de Berlim e pelo colapso da URSS, um dos momentos “seguramente mais trágicos” da vida do dirigente histórico dos comunistas portugueses, segundo José Milhazes.
O livro “Álvaro Cunhal no País dos Sovietes”, da Aletheia Editores, 68 páginas, é apresentado pelos autores na terça-feira, em Lisboa.
PSP // MLL
Lusa/fim
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