Somos o que escolhemos ser (Introdução)
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INTRODUÇÃO
Mas o que escolhemos ser não é independente
das circunstâncias que conhecemos e que vivemos.
Pedro Passos Coelho é um homem da Política como de tantas outras coisas.
Este projeto nasceu da intenção de descobrir mais sobre uma figura que evidencia uma forma de estar e de agir diferentes e que, por isso, suscita curiosidade e convida à descoberta do mundo que se esconde por detrás do que se vê. Não tem a pretensão de ser um retrato fiel do que foi a vida deste homem nem do que é hoje a base do seu pensamento. Essa história só ele poderá contar. A introspeção dos outros não está ao nosso alcance e, sempre sujeitos ao que é o nosso quadro de referência e à nossa visão, o mais que podemos ambicionar é compreendê‑la. É o que tento fazer. E o que convido todos a tentar: ler, descobrir e, depois, concluir se esta é ou não uma vida que vale a pena conhecer.
Pedro Passos Coelho nasceu em 1964, em Coimbra. Do Caramulo, a sua primeira morada, tem memória das pequenas viagens que fazia com o pai, médico, nas suas consultas ao domicílio. É de Angola que guarda mais recordações de infância, sobretudo da circunstância feliz de viver livre como um menino de rua e de ter um teto e uma família como os mais afortunados. É o mais novo de quatro irmãos, filhos de António e Maria Passos Coelho, duas pessoas a quem a vida trocou muitas vezes a volta, mas que nunca deixaram de remar em frente. O azar foi parente presente, mas não levou nem a esperança, nem o ânimo. Pelo menos, por muito tempo. Das adversidades e da forma como as viu em redor ser superadas, Pedro terá retirado lições preciosas. Hoje, é um homem pragmático que sabe dar a devida importância ao que são efetivamente más notícias, mas consegue retirar dessa categoria muitos acontecimentos. Por já ter vivido pior, sabe quanto vale e como se mede o sofrimento.
Regressou a Portugal com dez anos, porque já eram de Vila Real muitas das suas raízes. A adaptação a Trás‑os‑Montes, às novas gentes, aos costumes e à terra não foi fácil, e como que à espera que um pesadelo passasse, Pedro refugiou‑se, isolado, por um longo período de tempo.
Sempre pensou em ser médico e fez todo o percurso escolar para cumprir esse objetivo. Mais do que um sonho, era um caminho natural, óbvio, que nunca perdeu muito tempo a questionar. Teria seguido essa carreira, não fosse aparecer‑lhe no caminho uma grande paixão: a Política.
Abençoado com o dom da oratória e uma voz de barítono, serviu‑lhe a avidez, quase aditiva, pela busca do conhecimento para lhes dar substância e conteúdo. Com a obsessão precoce de saber o mais possível sobre tudo, escapou a alguns anos de adolescência dita «normal». Trocou muitas vezes as atividades pueris por outras que o transformavam num ser estranho. Pelos treze anos, em vez de jogar ao berlinde ou futebol de mesa, ouvia ópera e tentava sapatear como Fred Astaire. Trocava os livros de aventuras pelos ensaios históricos e tratados de filosofia que dissertavam sobre o conhecimento, a vida e a natureza humana. Aos catorze, já conseguia discorrer sobre expectativas, desejos e interrogações cognitivas. Foi com essa idade que se iniciou na política, com uma entrada a pés juntos que pretendia abanar o status quo. Entrou a questionar, num choque frontal com quem estava no comando das operações da Juventude Social Democrata. A representar o seu distrito, mandaram‑no ir ganhar lugares para Vila Real. Saiu‑se mal no cumprimento desse objetivo, mas conseguiu outro, mais importante: fazer‑se notar.
Cheio de si, não tinha medo de nada e as hierarquias não o impediam de expressar o seu pensamento. Durante a vida, foi limando arestas e ficando mais polido, pautou‑se sempre por abordagens educadas e escolheu os fóruns próprios, mas nunca perdeu o ímpeto, às vezes suicida e muito pouco estratégico, de dizer o que sentia.
Foi o mais novo conselheiro nacional do PSD, secretário‑geral, vice‑presidente e, depois, presidente da JSD e quem ocupou o cargo por maior período de tempo. Foi deputado à Assembleia da República e vice‑presidente do Grupo Parlamentar do Partido Social Democrata. Afastou‑se, zangado e desiludido, e quando saiu não pensava mesmo voltar. Tentou encontrar alento noutras atividades profissionais e retomou o investimento pessoal que a política tinha absorvido. Regressou em 2005, movido por um laivo de esperança de que as coisas fossem mudar. E saiu, mais uma vez, quando viu que tudo ficaria na mesma. Tinha um plano para o país e para o partido desde cedo. Sabia que era preciso «mudar» e achava que tinha as condições certas para liderar essa transformação necessária e já tardia. Candidatou‑se a presidente do PSD uma primeira vez, e perdeu. Foi à segunda que conseguiu a confiança da maioria dos militantes para conduzir o partido, numa conjuntura que já era especial. Passos Coelho tinha noção dos constrangimentos que a governação socialista provocava aos portugueses, mas não estava consciente da sua real dimensão. Pautou‑se sempre pelo bem comum em detrimento do interesse partidário, o que incomodou muitas pessoas. A máquina partidária tem um modus operandi próprio e Passos Coelho afrontou‑o. Viabilizou a governação socialista enquanto achou que essa seria a melhor alternativa para o país, mesmo com a certeza de que estaria a atrasar a chegada do PSD ao poder. O poder, só pelo poder, nunca lhe fez muito sentido. Essa postura pouco tradicional, custou‑lhe certamente muitos pontos políticos ao longo da vida.
A política consumiu‑lhe muito tempo e acabou por, inconscientemente, lhe dedicar grande parte da vida. Não de forma exclusiva, mas muitas vezes absorvente. Mas Pedro não foi só um político. Aliás, nunca foi esse o seu papel mais importante. Foi filho, pai, irmão, marido. Foi e é. E só nesse cenário é mais igual a si próprio.
Todos sabem quem é Pedro Passos Coelho. Mas poucos serão os que o conhecem. Identificam facilmente o homem que quase diariamente vêem entrar pelas suas casas e que durante algum tempo, trouxe as más notícias. É, ainda hoje e mesmo já superada a fase mais negra, o porta‑voz do sacrifício, da austeridade, dos tempos de tempestade e amargura. Tal personagem não pode ser um homem bom.
Mas é. É um homem como todos os outros, com uma vida para além da profissão que exerce e que o faz ser, ao olhar público, o rosto do augúrio e impositor da maldição. Mas como um médico que nos abre o peito para intervencionar o coração enfermo, pode ser quem nos salva, contando que não falhe, um milímetro, no exercício da sua função.
Há um Pedro por detrás do Pedro que todos pensam conhecer. Há o homem, que o político nos tenta esconder. Há, de facto, dois lados de um mesmo Pedro. E a história só se completa quando os dois se dão a conhecer. Porque Passos Coelho é o que escolheu ser, mas o que é não é indiferente das circunstâncias que viveu nem dos acasos que a vida lhe deu.
A sua história é a matéria de que ele é feito.
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